— E então? O que é que o senhor sabe fazer?
— Ah, eu solto fogo pela venta, retalho carne humana, coloco um ou outro sujeito num caldeirão de óleo fervente, enfim, essas coisas básicas. Também produzo CDs de pagode e música sertaneja. E, claro, dou assessoria em Brasília. Mas isso daí tô abandonando, o pessoal lá é muito sacana…
— Uhmm, sei… Só isso?
— Não, não. Eu também vôo, olha aí… Vou de zero a cem em cinco batidas de asa. Se não tiver tráfego aéreo, claro.
— Entendi. E qual é o cargo que o senhor está pretendendo mesmo?
— Bom, eu queria uma coisa assim onde eu pudesse humilhar e explorar, tornar a vida dos funcionários uma desgraça, deixar as pessoas tensas e nervosas, sabe?
— Me desculpe, mas os cargos de chefia já estão todos ocupados.
— Então, quem sabe algo como ficar o dia todo de perna pro ar, sem fazer nada, vendo os outros trabalhar feito burro e, de vez em quando, passar a mão na bunda de uma funcionária?
— Nesse caso, o senhor vai ter que comprar ações da empresa. Me diga uma coisa, qual a sua idade mesmo?
— No calendário judaico ou cristão?
— Cris… Uhm! Mas que cheiro é esse?
— Enxofre, modéstia à parte.
— Urgh!… Olha, normalmente eu não faço isso, mas vou ser bem sincera com o senhor. Esse seu currículo está um tanto ou quanto antiquado, entende? O que é que eu vejo aqui? Correntes, fogo, caldeirões, ácido, tridentes… Esses são métodos ultrapassados. As empresas modernas utilizam outro tipo de tortura, como a hora extra não remunerada ou o amigo secreto no final do ano.
— Mas, moça, eu consigo me transformar no que eu quiser. Olha aqui… Tcha-ran! Virei um pastor evangélico!
— Não vi diferença.
— Agora, veja… bééé… me transformei num bode!
— Já tentou o Se Vira nos Trinta?
— Calma… Eu também faço caretas horrorosas, horripilantes. Vê? Fiquei a cara daquele cantor, o Lenine!
— Ha! O senhor precisa ver é a cara do meu chefe de manhã!… Não vai dar.
— Não diga isso, moça. Eu sei que eu tô meio velhão, mas, e a experiência? Eu tava aqui quando o primeiro raio de luz cruzou o firmamento! Vi os oceanos se formarem! Presenciei o nascimento da Hebe Camargo!
— Me desculpe.
— Moça, minha vida tem sido um inferno, eu tenho centenas de faunos pra sustentar… A senhora não entende! Me dê uma chance, por favor!
— Bom… Deixa ver… O senhor disse que sabe voar?
— Sim, sei. Olha aí…
— Tudo bem, tudo bem, já vi. E é rápido mesmo?
— Mais que um deputado desviando verba do orçamento.
— Então tá. Acho que tenho o cargo ideal para o senhor. Aperte aqui, o senhor está contratado.
— Puxa! Mesmo? Como diretor?
— Não, como boy. Começa na segunda-feira, parabéns! Agora, por favor, vê se toma um banho, sim?
— Ah, eu solto fogo pela venta, retalho carne humana, coloco um ou outro sujeito num caldeirão de óleo fervente, enfim, essas coisas básicas. Também produzo CDs de pagode e música sertaneja. E, claro, dou assessoria em Brasília. Mas isso daí tô abandonando, o pessoal lá é muito sacana…
— Uhmm, sei… Só isso?
— Não, não. Eu também vôo, olha aí… Vou de zero a cem em cinco batidas de asa. Se não tiver tráfego aéreo, claro.
— Entendi. E qual é o cargo que o senhor está pretendendo mesmo?
— Bom, eu queria uma coisa assim onde eu pudesse humilhar e explorar, tornar a vida dos funcionários uma desgraça, deixar as pessoas tensas e nervosas, sabe?
— Me desculpe, mas os cargos de chefia já estão todos ocupados.
— Então, quem sabe algo como ficar o dia todo de perna pro ar, sem fazer nada, vendo os outros trabalhar feito burro e, de vez em quando, passar a mão na bunda de uma funcionária?
— Nesse caso, o senhor vai ter que comprar ações da empresa. Me diga uma coisa, qual a sua idade mesmo?
— No calendário judaico ou cristão?
— Cris… Uhm! Mas que cheiro é esse?
— Enxofre, modéstia à parte.
— Urgh!… Olha, normalmente eu não faço isso, mas vou ser bem sincera com o senhor. Esse seu currículo está um tanto ou quanto antiquado, entende? O que é que eu vejo aqui? Correntes, fogo, caldeirões, ácido, tridentes… Esses são métodos ultrapassados. As empresas modernas utilizam outro tipo de tortura, como a hora extra não remunerada ou o amigo secreto no final do ano.
— Mas, moça, eu consigo me transformar no que eu quiser. Olha aqui… Tcha-ran! Virei um pastor evangélico!
— Não vi diferença.
— Agora, veja… bééé… me transformei num bode!
— Já tentou o Se Vira nos Trinta?
— Calma… Eu também faço caretas horrorosas, horripilantes. Vê? Fiquei a cara daquele cantor, o Lenine!
— Ha! O senhor precisa ver é a cara do meu chefe de manhã!… Não vai dar.
— Não diga isso, moça. Eu sei que eu tô meio velhão, mas, e a experiência? Eu tava aqui quando o primeiro raio de luz cruzou o firmamento! Vi os oceanos se formarem! Presenciei o nascimento da Hebe Camargo!
— Me desculpe.
— Moça, minha vida tem sido um inferno, eu tenho centenas de faunos pra sustentar… A senhora não entende! Me dê uma chance, por favor!
— Bom… Deixa ver… O senhor disse que sabe voar?
— Sim, sei. Olha aí…
— Tudo bem, tudo bem, já vi. E é rápido mesmo?
— Mais que um deputado desviando verba do orçamento.
— Então tá. Acho que tenho o cargo ideal para o senhor. Aperte aqui, o senhor está contratado.
— Puxa! Mesmo? Como diretor?
— Não, como boy. Começa na segunda-feira, parabéns! Agora, por favor, vê se toma um banho, sim?
pormarconileal
Seja o primeiro a comentar.
Postar um comentário